Artigo: O governo do Acre assume a própria incompetência*



O partido que governa o Acre há 20 anos e que há muito se autoproclama governo dos trabalhadores, hoje, mostra as garras contra milhares de servidores do Estado. Após anos de farra com os recursos públicos e aparelhamento estatal, demonstra total escárnio com os contribuintes, com a população e com os direitos dos milhares de funcionários públicos estaduais.

A incompetência administrativa na gestão da Secretaria de Saúde, agora, tem um atestado certificado através da publicação no Diário Oficial do dia 26 de janeiro, em que existe um chamamento para uma organização social (OS) fazer o gerenciamento dos serviços do Pronto Socorro/Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (PS/HUERB), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Cidade do Povo, UPA 2 e UPA da Baixada da Sobral.

O reconhecimento da incompetência veio tarde demais! A arrogância por tantos anos prejudicou em muito a população que enfrenta filas para cirurgia, a falta de leitos, a falta de medicamentos. Problema que se agrava ainda mais na área dos serviços de urgência e emergência, como o do Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), onde não existem medicamentos utilizados para tratar pacientes com surtos, diagnosticados com doenças psiquiátricas.

O nascer de um novo ano veio com atrasos nos pagamentos dos plantões extras dos servidores da saúde, que, em virtude do salário aviltante dispensado pelo governo do Estado, faz com que a maioria dos servidores sacrifique a própria vida para melhorar seu salário e cobrir os furos das escalas em unidades de saúde da capital e do interior.

Com a recessão deixada pelo governo Dilma Rousseff, esperava-se que o Estado estivesse preparado para enfrentar os anos de vacas magras. Tal precaução não aconteceu! Em vez de reduzir a imensa folha de pagamentos de cargos de confiança, de afilhados políticos, o governo dos “trabalhadores” enfiou suas afiadas garras no coração dos servidores públicos com o aumento do valor da contribuição previdenciária de 11% para 14%.

Como uma hiena raivosa, os políticos dilaceraram as entranhas dos servidores com 25 anos de serviços ou mais, reduzindo o valor da sexta parte que é concedida como uma vantagem conquistada em mesa de negociação e inscrita na lei do servidor público do Acre.

Além de não corrigir as perdas salariais, que possui previsão Constitucional, o governo atinge em cheio os bolsos daqueles que acreditaram na farsa de que estavam elegendo alguém que os defenderiam e não que os atacassem pelas costas, com uma adaga afiada em seus ganhos, fruto de um trabalho penoso de longas jornadas e, hoje, bem vilipendiado.
A arrogância, a incompetência e a demagogia tem sido a marca registrada desse atual governo.

Fazendo uma retrospectiva dos que assumiram a pasta da Saúde e que saíram de lá sem resolver nenhum dos gargalos das principais unidades de saúde, temos uma secretaria que foi conduzida por professores, um procurador, pastores e um representante de serviços do Detran. Deu no que deu. Agora, o governo do Acre doará R$ 15 milhões todos os meses para uma organização social (OS) administrar as unidades de urgência e emergência de Rio Branco.

Segundo disse um assessor da Secretaria de Saúde, em entrevista as TVs locais, as despesas com o pagamento dos funcionários e a estrutura das unidades ficarão por conta do governo. Onde já se viu isso? Quem se habilita? Esse dinheiro todo dava para contratar 1,7 mil médicos, utilizados para acabar com os buracos nas escalas dos hospitais, que atualmente funcionam de maneira incompleta e eliminando horas extras por falta de profissionais.

Como é muito frágil a fiscalização dos recursos públicos no país, vítima da roubalheira disseminada nas instituições públicas, como as flagradas pela Operação Lava Jato. Será que a destinação desse dinheiro para a OS será fiscalizado? Até hoje não é possível visualizar no portal da transparência do governo do Estado os recursos utilizados no Pró-Saúde! Como podemos acreditar que esses R$ 15 milhões serão revertidos em benefícios para a população?  O brasileiro não pode acreditar apenas em discursos políticos vazios e sem resultados efetivos.

*Ribamar Costa é médico ginecologista e presidente do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC)

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