Quando chegar o próximo dia 14, as 113 pessoas portadoras de necessidades especiais, incluindo bebês, crianças, adolescentes e adultos sairão de férias, sob ameaça de terem suas terapias interrompidas para sempre.
A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, também denominada APAE, depois de 11 anos de atendimento no Vale do Juruá, no município de Cruzeiro do Sul (AC), fecha suas portas por não ter mais condições de pagar o aluguel, de R$ 2 mil, do imóvel onde está instalada. Sem recursos, não consegue quitar a dívida equivalente a dez meses de débito, referentes ao período entre janeiro e outubro de 2007.
A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, também denominada APAE, depois de 11 anos de atendimento no Vale do Juruá, no município de Cruzeiro do Sul (AC), fecha suas portas por não ter mais condições de pagar o aluguel, de R$ 2 mil, do imóvel onde está instalada. Sem recursos, não consegue quitar a dívida equivalente a dez meses de débito, referentes ao período entre janeiro e outubro de 2007.
Essas despesas eram custeadas pelo convênio firmado com o Governo do Estado do Acre, de R$ 14 mil, que expirou em maio deste ano e não foi mais renovado. Preocupada, a diretora da instituição, Carem Lima Carvalho Queiroz, tem tentado, em vão, um contato com a titular da Secretaria Estadual de Assistência Social, Maria das Graças. Na última semana de junho conseguiu falar com Joelma, assessora da secretária, que lhe deu a pior notícia que a APAE poderia ter recebido, a total falta de esperança.
“Ela me disse que o Governo do Acre não tem mais recursos e que a Secretaria não poderá fazer nada para nos ajudar. Não temos mais a quem pedir ajuda. Infelizmente nunca consegui conversar com a secretária Maria das Graças”, conta, desolada. Depois disso Carem procurou o Ministério Público Estadual, e o promotor Gláucio Ney Shiroma Oshiro lhe prometeu encaminhar um ofício à Secretaria Estadual de Assistência Social.
“Ela me disse que o Governo do Acre não tem mais recursos e que a Secretaria não poderá fazer nada para nos ajudar. Não temos mais a quem pedir ajuda. Infelizmente nunca consegui conversar com a secretária Maria das Graças”, conta, desolada. Depois disso Carem procurou o Ministério Público Estadual, e o promotor Gláucio Ney Shiroma Oshiro lhe prometeu encaminhar um ofício à Secretaria Estadual de Assistência Social.
Durante visita à APAE, o deputado federal Henrique Afonso (PT-AC) mostrou-se sensível à situação. Ele, que ganhou notoriedade em todo o país e no exterior por condenar o infanticídio, ação praticada por algumas comunidades indígenas da Amazônia que tiram a vida de crianças que nascem portadoras de alguma deficiência, prometeu ajudar na construção de uma sede definitiva. Mas o deputado alertou que este é um processo demorado, que pode levar entre dois e três anos para ser concluído.
Com as campanhas feitas entre sócios contribuintes, a APAE não consegue arrecadar mais de R$ 300,00. Um convênio assinado com a prefeitura de Cruzeiro do Sul, através de uma verba para custeio no valor de R$ 150 mil, de emenda parlamentar do senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC), tornava possível a manutenção das atividades.
“Mas esses recursos não podem ser destinados a pagamentos de aluguel do imóvel. Com eles pagamos 13 monitores, pedagogo, assistente social e psicólogo. Além disso, permitem comprar alimentos, pagar o aluguel de uma kombi para transportar crianças com paralisia, combustível e material de escritório, entre outras despesas”, explica, acrescentando que a APAE é grata à ajuda que o Governo do Estado do Acre deu à instituição, “como por exemplo, o ônibus escolar que carrega as crianças da APAE e a permissão para os professores do Estado trabalharem com as crianças”.
“Mas esses recursos não podem ser destinados a pagamentos de aluguel do imóvel. Com eles pagamos 13 monitores, pedagogo, assistente social e psicólogo. Além disso, permitem comprar alimentos, pagar o aluguel de uma kombi para transportar crianças com paralisia, combustível e material de escritório, entre outras despesas”, explica, acrescentando que a APAE é grata à ajuda que o Governo do Estado do Acre deu à instituição, “como por exemplo, o ônibus escolar que carrega as crianças da APAE e a permissão para os professores do Estado trabalharem com as crianças”.
APAE NO JURUÁ – A história da APAE no Vale do Juruá começa com o drama vivido por sua fundadora. Filha de tradicional família de Cruzeiro do Sul, há 17 anos Carem Lima Carvalho Queiroz teve a sua vida e a da família alterada para sempre. Segundo conta, durante o parto de sua filha, um erro médico no hospital estadual não conseguiu impedir que o cordão umbilical enrolado no pescoço do bebê resultasse em anóxia (falta de oxigenação no cérebro). A paralisia cerebral da filha conduziu-a por caminhos que jamais imaginou que existissem.
Depois de bater às portas de clínicas especializadas em acompanhamento de crianças com problemas semelhantes ao de sua filha, em São Paulo, Fortaleza e outros centros do país, ela decidiu fundar a APAE em Cruzeiro do Sul, em 16 de abril de 1997. E teve uma surpresa. Não fazia idéia que na região onde vivia, existisse tanta gente portadora de deficiência mental, paralisia cerebral, síndrome de Down, deficiências múltiplas e autistas.
Depois de bater às portas de clínicas especializadas em acompanhamento de crianças com problemas semelhantes ao de sua filha, em São Paulo, Fortaleza e outros centros do país, ela decidiu fundar a APAE em Cruzeiro do Sul, em 16 de abril de 1997. E teve uma surpresa. Não fazia idéia que na região onde vivia, existisse tanta gente portadora de deficiência mental, paralisia cerebral, síndrome de Down, deficiências múltiplas e autistas.
Antes da APAE existir aqui as crianças eram criadas como bichos, amarradas nos porões, e nem os vizinhos sabiam da existência de muitas delas”, recorda a diretora, que é taxativa quando diz que os cuidados com essas pessoas não podem ser de responsabilidade apenas de suas famílias ou de instituições como a APAE, e sim de toda a sociedade.
Pelas pesquisas, 10 por cento da população brasileira é formada por pessoas que têm algumas dessas necessidades especiais. Mas em regiões mais carentes, esse número pode chegar a até 15 por cento. Isso significa dizer que no Vale do Juruá, região já com alto índice de doenças como hanseníase, tuberculose e câncer de colo de útero, o número de pessoas que mereceriam cuidados especiais de instituições como APAE e Sociedade Pestalozzi (inexistente na região) pode chegar a até 12 mil pessoas.
PROGRAMAS – Entre os programas desenvolvidos pela APAE de Cruzeiro do Sul destacam-se a estimulação precoce para crianças de zero a quatro anos; fisioterapia para crianças com problemas cerebrais; e fonoaudiologia para auxiliar na fala e na mastigação para a alimentação das crianças. Além desses existem as aulas de alfabetização, oficinas profissionalizantes para o trabalho com hortas, jardinagem e limpeza de cozinha. No início dos tratamentos as crianças freqüentam salas de adaptação e aquelas que são portadoras de deficiências múltiplas fazem parte da turma de psicoestimulação.
APELO – “Espero que o governador Binho Marques ajude nossas crianças, assim como o governador Jorge Viana fazia. Tenho certeza que o governador tem condições de construir a nossa sede”, garante Carem.
Maria Ferreira Lima, mãe de Vitória Lima Martins, de 2 anos, é uma das muitas mães desesperadas com a situação. Ela não esconde a decepção com pessoas que poderiam ajudar e não ajudam.
“A gente não precisava estar passando por isso, mas infelizmente a gente vota nas pessoas e é dessa forma que nos retribuem. Meu Deus, a gente já enfrenta preconceito de todo tipo e agora tem que passar por isso”, desabafa, emocionada.
www.vozdoacre.com - Texto de Dílson Ornelas e fotos de Gleiciane Cunha
Pelas pesquisas, 10 por cento da população brasileira é formada por pessoas que têm algumas dessas necessidades especiais. Mas em regiões mais carentes, esse número pode chegar a até 15 por cento. Isso significa dizer que no Vale do Juruá, região já com alto índice de doenças como hanseníase, tuberculose e câncer de colo de útero, o número de pessoas que mereceriam cuidados especiais de instituições como APAE e Sociedade Pestalozzi (inexistente na região) pode chegar a até 12 mil pessoas.
PROGRAMAS – Entre os programas desenvolvidos pela APAE de Cruzeiro do Sul destacam-se a estimulação precoce para crianças de zero a quatro anos; fisioterapia para crianças com problemas cerebrais; e fonoaudiologia para auxiliar na fala e na mastigação para a alimentação das crianças. Além desses existem as aulas de alfabetização, oficinas profissionalizantes para o trabalho com hortas, jardinagem e limpeza de cozinha. No início dos tratamentos as crianças freqüentam salas de adaptação e aquelas que são portadoras de deficiências múltiplas fazem parte da turma de psicoestimulação.
APELO – “Espero que o governador Binho Marques ajude nossas crianças, assim como o governador Jorge Viana fazia. Tenho certeza que o governador tem condições de construir a nossa sede”, garante Carem.
Maria Ferreira Lima, mãe de Vitória Lima Martins, de 2 anos, é uma das muitas mães desesperadas com a situação. Ela não esconde a decepção com pessoas que poderiam ajudar e não ajudam.
“A gente não precisava estar passando por isso, mas infelizmente a gente vota nas pessoas e é dessa forma que nos retribuem. Meu Deus, a gente já enfrenta preconceito de todo tipo e agora tem que passar por isso”, desabafa, emocionada.
www.vozdoacre.com - Texto de Dílson Ornelas e fotos de Gleiciane Cunha
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